Sabino Henrique

A Fragilidade do Atendimento aos Idosos: Quando a Burocracia Supera a Finalidade Social 

O atendimento aos idosos, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade, é um dos grandes desafios da sociedade contemporânea. Em que pese a importância das políticas governamentais e da atuação de Organizações Não Governamentais (ONGs), a maior parte dos recursos destinados a programas assistenciais é consumida por atividades-meio, restando pouco para as atividades-fim, que deveriam garantir qualidade de vida e dignidade aos beneficiários.

O recente fechamento de duas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) em Fortaleza – Nossa Senhora de Lourdes e Lar Novo Lar – evidencia essa realidade. A despeito do esforço de fiscalização do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), os problemas vão além da falta de documentação e estrutura física inadequada. O cerne da questão reside no modelo atual de gestão dessas entidades, onde o formalismo e a burocracia muitas vezes se sobrepõem ao verdadeiro propósito social.

Historicamente, o cuidado com os idosos esteve associado a associações de misericórdia, como a Sociedade de São Vicente de Paulo. Essas instituições prestavam assistência por amor e compromisso social, sem a influência de interesses políticos ou processos excessivamente burocráticos. No entanto, com o enfraquecimento dessas associações, o papel de assistência passou a depender cada vez mais de estruturas formais, muitas das quais são ineficazes ou insuficientes.

O modelo atual impõe um custo elevado para manter as exigências legais e operacionais, sem garantir que os recursos cheguem efetivamente ao idoso. Gasta-se mais com fiscalização, emissão de licenças, estudos técnicos e estrutura administrativa do que com assistência direta. Enquanto isso, as ILPIs que tentam funcionar sem um aparato burocrático robusto acabam sendo fechadas, e os idosos são deixados à mercê de soluções improvisadas, sem que haja uma rede de apoio eficaz.

A fiscalização e a legalidade são fundamentais, mas não podem se tornar um entrave ao atendimento de quem mais precisa. É urgente repensar o modelo assistencial, reduzindo a burocracia sem comprometer a segurança e a qualidade do atendimento. O fortalecimento de associações beneficentes tradicionais e a criação de políticas públicas mais eficientes podem ser caminhos para equilibrar a equação entre custo, regulamentação e efetiva prestação de serviço.

Se o Estado e a sociedade não encontrarem meios para resgatar o compromisso genuíno com os idosos, continuaremos a presenciar o fechamento de instituições e o agravamento da precarização da assistência. Afinal, garantir dignidade na velhice não deveria ser apenas uma questão burocrática, mas um imperativo ético e social