Artigo

A Importancia da Inteligencia Humana(IH) no uso da Inteligencia Artificial(IA)

Por – Carlos André Pereira Nunes – Advogado

A advocacia vive uma era de entusiasmo com a inteligência artificial generativa. Ferramentas capazes de redigir – em segundos – petições, pareceres e contratos têm fascinado profissionais do Direito e controllers de escritórios de advocacia.  Ocorre, no entanto, que – como parecerista, professor especialista em redação jurídica e advogado há mais de duas décadas – faço um importante alerta: junto com a inteligência artificial (IA) deve vir a inteligência humana (IH).

Tenho ficado muito preocupado com o fato de que a confiança cega na tecnologia esteja obscurecendo uma deficiência fundamental: a incapacidade de muitos profissionais em formular bons comandos (prompts) e, pior ainda, de revisar criticamente os textos produzidos pela IA.

Essa preocupação ganha contornos ainda mais graves diante de um dado alarmante: quase 12% da população brasileira com diploma universitário é funcionalmente analfabeta, ou seja, tem dificuldades para compreender textos simples.

Isso significa que você pode se deparar com um caso no qual esteja à frente um advogado analfabeto funcional; um advogado que esteja defendendo o patrimônio, a vida, a liberdade ou a saúde de alguém e que tenha feito a peça (por meio da IA), sem revisão e sem qualquer análise crítica, linguística e jurídica.

Não basta ter acesso à IA: é preciso saber pensar juridicamente para usá-la com responsabilidade e com inteligência, para fazer prompts.

É indispensável que o advogado domine, antes de tudo, o Direito e Redação Jurídica. Caso queira fazer uma petição inicial, ele deve saber profundamente as técnicas trazidas pelo art. 319 do Código de Processo Civil. Esse dispositivo exige profissionalismo. Não é um exercício de escrita aleatória. Exige conhecimento em narração jurídica, para que se distinga o relevante do irrelevante, de forma a ordenar os acontecimentos de maneira lógica e persuasiva. Já a fundamentação jurídica exige muito mais do que copiar julgados: é preciso aplicar corretamente os institutos jurídicos ao caso concreto, articular teses e formular argumentos com base na retórica aristotélica para convencer o julgador por meios racionais e éticos.

Como fazer bons prompts se o advogado não tem proficiência em escrita e em Direito? Somente um profissional com domínio profundo da linguagem jurídica, da lógica argumentativa e da área específica do Direito será capaz de fazer o uso estratégico da inteligência artificial; de fazer prompts de alto padrão. Caso contrário, os textos gerados pela IA serão meros simulacros de juridicidade.

A IA não corrige ignorância, apenas a disfarça temporariamente. Para que a advocacia possa usar bem a inteligência artificial, é preciso antes cultivar a inteligência humana. Só ela é capaz de produzir prompts jurídicos com excelência.

No Direito e na vida, junto com a IA vem a IH.

*Texto produzido por IH (rsrs)

***Artigo assinado por Carlos André Pereira Nunes, Advogado, linguista e referência nacional em pareceres linguísticos na área jurídica e em redação normativa e oficial.

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