Realpolitik, Trump e o Brasil: Soberania à Prova
Realpolitik é um conceito surgido no século XIX que define uma prática política centrada em interesses concretos de poder, segurança e vantagem estratégica, em detrimento de valores ideológicos, éticos ou humanitários. É a política do possível, do pragmatismo duro, típica de líderes que priorizam resultados tangíveis frente a princípios universais.
É com essa lente que devemos observar a decisão do ex-presidente Donald Trump ao anunciar tarifas sobre produtos brasileiros em momentos estratégicos de sua gestão.
Trump não impôs sobretaxas ao Brasil por razões morais, ecológicas ou comerciais isoladas, mas por cálculo geopolítico. Ao mirar exportações brasileiras – como o aço e o alumínio – buscava proteger setores americanos, agradar eleitores industriais do Cinturão da Ferrugem e pressionar países emergentes que ganham espaço no mercado global.
Não se trata de um ataque direto à soberania brasileira, mas sim de uma ação legal dentro das normas internacionais – o que não a torna justa ou imune a críticas diplomáticas.
O governo Lula, herdeiro de uma política externa tradicionalmente altiva, respondeu com prudência. Manteve o tom diplomático, evitou confrontação direta, mas buscou articulação com parceiros internacionais para denunciar os desequilíbrios causados pela medida.
A grande imprensa brasileira, no entanto, variou entre o silêncio e a crítica seletiva, revelando sua dificuldade histórica de entender as nuances da geopolítica realista.
Já o empresariado, afetado diretamente, reagiu com preocupação, exigindo do governo respostas concretas para mitigar os prejuízos.
A soberania nacional, na prática, é a capacidade de um país tomar decisões autônomas sobre seu território, sua economia e seus rumos estratégicos, sem submissão a pressões externas. Para exercê-la de forma plena, o Estado precisa de quatro elementos essenciais: poder político estável, base econômica sólida, autonomia diplomática respaldada por alianças estratégicas e, de forma crucial, um poder militar eficiente e dissuasório.
Sem capacidade de defesa, não há soberania duradoura.
Nesse jogo de poder, o Brasil precisa mais do que indignação: necessita estratégia. Defender a soberania é mais do que rejeitar tarifas – é construir musculatura econômica, investir em ciência e tecnologia, modernizar suas Forças Armadas, ampliar sua presença comercial, proteger seus ativos naturais e estabelecer parcerias que respeitem sua autonomia.
O mundo é movido por interesses, e só os fortes são ouvidos. Realpolitik, afinal, não é sobre justiça – é sobre força.
Sabino Henrique é jornalista, advogado e editor do site direitoce.com.br.