Sabino Henrique

De Tasso Jereissati a Chagas Vieira 

O Ceará viveu muitos ciclos políticos, mas poucos tão marcantes quanto o que teve início em 1986, com a eleição de Tasso Jereissati ao governo do Estado. Jovem empresário, moderno em seu discurso e determinado a romper com o coronelismo que ainda permeava a política local, Tasso inaugurou um novo estilo de gestão. Logo em seu primeiro gesto estratégico, indicou outro jovem, o deputado estadual Ciro Gomes, para disputar a prefeitura de Fortaleza, então ocupada por Maria Luíza Fontenele, do PT. O gesto simbolizava a renovação política e administrativa que se pretendia implementar no Estado. A vitória de Ciro consolidou esse novo momento.

Mas o movimento de renovação perdeu impulso antes mesmo de se estruturar plenamente. Na sucessão seguinte, Tasso voltou a apostar no mesmo nome: Ciro Gomes, agora como candidato ao governo do Ceará. Venceu. E, embora continuasse aliado, Ciro começou a imprimir seu próprio estilo. Manteve uma base técnica qualificada, avançou em áreas como educação e segurança, mas optou por não interferir diretamente nas prefeituras municipais. O projeto de renovação passou então a se pulverizar em iniciativas isoladas, desconectadas de um plano unificado de modernização da política cearense.

Vieram depois os nomes de Cid Gomes, irmão de Ciro, e Roberto Cláudio, ambos frutos do mesmo campo político. E por fim, o petista Camilo Santana, também apadrinhado por Cid. Durante algum tempo, o grupo pareceu invencível. Porém, como em toda construção política de longa duração, surgiram fissuras. Os rompimentos entre Ciro e Cid, e entre Ciro e Camilo, revelaram não apenas divergências táticas, mas também disputas de protagonismo. O saldo mais visível foi o apoio de Camilo ao candidato petista Elmano de Freitas, que venceu as eleições estaduais em 2022.

É neste ponto que entra o nome que motiva este artigo: Chagas Vieira. Jornalista discreto, respeitado nos bastidores e com sólida formação política, Chagas surgiu como uma escolha pessoal de Cid Gomes, quando este governava o Ceará. Tornou-se chefe da assessoria de imprensa e, depois, foi levado por Cid ao Senado, para desempenhar o mesmo papel. Chagas nunca buscou os holofotes — preferiu operar nos bastidores, onde o jogo é mais silencioso, mas não menos decisivo. Ganhou respeito por sua lealdade, profissionalismo e habilidade política.

A grande virada veio com o governo Elmano de Freitas. O novo governador, reconhecendo a competência e o histórico de resultados de Chagas, o nomeou para comandar a Casa Civil — a mais estratégica das secretarias estaduais. Desde então, o jornalista transformou-se em peça-chave do governo. Com postura firme, estilo técnico e articulação segura, passou a cobrar metas, organizar agendas e mediar interesses diversos entre governo, base política e sociedade. Assumiu, de fato, o papel de articulador central da atual gestão estadual.

Agora, Chagas Vieira enfrenta talvez o maior desafio de sua trajetória: consolidar-se como liderança política e gestora, sem abandonar o traço essencial de sua formação — a discrição. Seu desempenho à frente da Casa Civil está sendo testado em meio a demandas cada vez mais complexas, e sua habilidade de manter pontes entre aliados em tempos de tensão interna será decisiva. Se conseguir atravessar esse momento mantendo a confiança do governador e entregando resultados, poderá dar o grande salto. Se falhar, será apenas mais um entre tantos assessores que passaram pelo poder. Mas se vencer, será o nome a se observar.

Recentemente, Chagas Vieira foi incumbido de estruturar e comandar um grupo especial integrado por importantes secretários de Estado, com o objetivo de combater a criminalidade e as facções criminosas que atuam no Ceará. Essa missão inclui a coordenação de ações estratégicas e a articulação entre diferentes órgãos de segurança pública, visando enfrentar de forma eficaz os desafios impostos pela violência no Estado.

O secretário-chefe da Casa Civil tem destacado a importância da colaboração entre as forças de segurança do Ceará e de outros estados, como o Rio de Janeiro, para trocar informações e estratégias no combate às facções criminosas. Essa cooperação interestadual é vista como fundamental para desarticular as redes criminosas que operam além das fronteiras estaduais. Diário do Nordeste

Além disso, Chagas Vieira tem enfatizado a necessidade de ações integradas entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como a participação da sociedade civil, para enfrentar a complexidade do problema da criminalidade. Ele acredita que somente com um esforço conjunto será possível alcançar resultados significativos na redução da violência e na promoção da segurança pública no Ceará.

Nesse contexto, a liderança de Chagas Vieira na coordenação dessas iniciativas será determinante para o sucesso das políticas de segurança pública no Estado. Sua capacidade de articulação política, gestão eficiente e compromisso com os resultados serão postos à prova, podendo consolidá-lo como uma das principais figuras da política cearense ou relegá-lo ao rol dos que não conseguiram superar os desafios impostos pela realidade complexa da segurança pública.