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Doze livros marcantes publicados no Brasil em 2023

Por Filomeno Moraes – Professor Universitário, Jurista, Cientista Politico

Nota explicativa: como é da natureza das coisas, a lista é discricionária, incompleta e injusta, pois nela faltam mais livros marcantes do que contém. De autores nacionais ou estrangeiros, todos foram publicados em língua portuguesa durante o ano corrente, com exceção do livro do professor Eduardo Diatahy de Bezerra de Menezes que, editado em 2012, foi lançado em 2023. 1. Alaor Caffé Alves – Estado e ideologia: aparência e realidade – subsídios para uma teoria crítica do Estado

O livro do professor da Universidade de São Paulo, em segunda edição, investiga a essência e unidade do Estado, invisíveis, em muitos aspectos, nos sentidos do seu corpo institucional. Constitui-se num aporte importante para a Teoria Geral do Estado e, em especial, do Estado brasileiro, observada a pobreza da Teoria do Estado produzida no país.

  1. Angela Alonso – Treze: a política de rua de Lula a Dilma

O livro trata dos acontecimentos de junho de 2013, ou seja, do ciclo de protestos que sacudiu o país, de orientações distintas e com agendas próprias, atuando simultaneamente.  Analisando, inclusive, a experiência dos governos petistas e sua relação tensa com a sociedade organizada, o texto constrói um panorama amplo e complexo da experiência política recente no Brasil.

  1. Colm Tóibin – O mágico

O livro traz um panorama ficcional da vida de Thomas Mann, um dos maiores literatos do século XX. Refletindo as vicissitudes, inquietudes e instabilidades, sobretudo, do mundo entre as duas grandes guerras, aprofunda o drama existencial familiar, sexual e político do autor de Os Brudenbrooks, Morte em Veneza, A Montanha Mágica, Doutor Faustus e José e os seus irmãos.

  1. Conrado Hübner Mendes – O discreto charme da magistocracia: vícios e disfarces do Judiciário brasileiro

O volume reúne um conjunto de textos jornalísticos, em que são comentados criticamente os usos e abusos dos tribunais superiores, especialmente do Supremo Tribunal Federal, e comportamentos de dignitários do Poder Judiciário e do Ministério Público.

  1. David Runciman – Confrontando o Leviatã: uma história do pensamento político moderno

O livro organiza-se em torno do tema do Estado moderno, na evolução que vai do século XVII ao final do século XX. Para tanto, relaciona aspectos fundamentais da filosofia política, de Thomas Hobbes a Hannah Arendt, da revolução à pandemia e à crise climática, do mercado à emancipação feminina. Formula a seguinte questão: o Estado que se construiu para a própria segurança é salvador ou algoz? Ou ambas as coisas?

  1. Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes – O enigma do Jano Caboclo: para uma leitura antropossemiológica da narrativa popular em verso

O volume aborda as narrativas populares, submetendo-as a aprofundada análise, com os instrumentos conceituais e os métodos próprios da Sociologia, Antropologia e   Semiologia.  O trabalho, sobre ser científico, tem a propriedade de ser ao mesmo tempo objeto de fruição estética. Como diz o autor, o seu “impulso pelas coisas do povo”, entretanto, está “desprovido de componentes elitistas ou nostálgicos e de intuitos populistas ou militantistas”.

  1. Felipe Nunes; Thomas Traumann – Biografia do abismo: como a polarização divide famílias, desafia empresas e compromete o futuro do Brasil

O livro analisa a polarização política sem precedentes que ocorre no país a partir das eleições de 2018. Baseia-se num robusto conjunto de dados obtidos por meio de pesquisas de comportamento e opinião, explorando as causas e consequências de tal polarização política e questionando os desafios e perigos para o futuro do país e do estabelecimento democrático.

  1. George Minois – História do inferno

O livro de um dos mais conceituados historiadores contemporâneos mostra concepções de inferno que acompanharam as principais civilizações humanas. Enfatiza que, mesmo com o declínio das crenças tradicionais e da crise da Igreja Católica, e com os questionamentos acerca da ideia de inferno nos próprios ambientes eclesiásticos, o conceito ainda se faz presente e relevante.

  1. Henry Kissinger – Liderança: seis estudos sobre estratégia

O livro salienta a importância das lideranças no que diz respeito às mudanças históricas, pelo que as boas lideranças são essenciais, principalmente em períodos de transição.  A relevância do trabalho está, nomeadamente, nos perfis biográfico-políticos dos seis lideres, a saber, Konrad Adenauer (Alemanha), Charles de Gaulle (França), Richard Nixon (Estados Unidos), Anwar Sadat (Egito), Lee Kuan Yew (Cingapura) e Margaret Thatcher (Reino Unido).

  1. Paulo Elpídio – Conversa de livraria: de códices e livros, de livrarias e livreiros

A obra, em dois volumes, recupera, nomeadamente, a produção livreira e a memória das livrarias e dos alfarrabistas do Ceará.  Como salienta o autor, “que fique claro […] não se tratarem de registros fidedignos, buscados nos escaninhos públicos da memória cartorial. Correspondem a uma crônica independente, produzida a partir de preferências pessoais, intangíveis, porém verdadeiras, de um aplicado aprendiz alfarrabista”.

  1. Sophia Rosenfield – Democracia   e verdade: uma breve história

O livro ressalta que uma relação particular, e até mesmo peculiar, entre democracia e verdade tomou corpo aproximadamente há 250 anos, nos dois lados do Atlântico, e que essa relação particular moldou a vida política, estendendo-se até ao século XXI. O volume distribui-se nos seguintes capítulos: 1. O problema da verdade democrática; 2. Especialistas na condução; 3. A reação populista; 4. A democracia na era das mentiras.

  1. Viktor Eroféiev – O bom Stálin

O autor narra a sua “infância soviética feliz”, como filho de um alto funcionário que, além de colaborador de Stálin e Mólotov, foi conselheiro cultural na embaixada russa em Paris. Seguindo os caminhos da memória, o livro fornece um panorama da União Soviética e da formação do movimento da dissidência dos anos 1960 e 1970 e do   almanaque Metrópol, que reuniu grandes nomes da literatura russa contemporânea.