Advocacia

65% dos clientes não entendem seus processos! Como os advogados estão mudando isso

Protocolos do Conselho Nacional de Justiça já preveem tal prática; especialista na área explica a importância de quebrar barreiras para o êxito na relação com a parte atendida

Os advogados de família estão vivendo um momento único na história da profissão. Cada vez mais, têm adaptado sua linguagem para algo mais acessível, empático e, pasme, com menos termos técnicos.

Uma pesquisa encomendada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revela que 73,3% dos entrevistados manifestaram algum grau de insatisfação com o Judiciário – sendo 34,1% muito insatisfeitos e 39,2% insatisfeitos. A linguagem jurídica foi identificada como uma barreira por 41,4% dos cidadãos, enquanto 23,5% consideram parcialmente incompreensível o vocabulário utilizado nos processos. Apenas 6,8% afirmaram entender plenamente os termos jurídicos.

E é justamente esse movimento de transformação que o XV Congresso Brasileiro de Direito das Famílias e Sucessões — promovido pelo Instituto Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM) em outubro, em Belo Horizonte — pretende aprofundar. O evento, considerado o maior do gênero no país, reunirá especialistas de todo o Brasil para discutir desafios atuais e as principais tendências que vêm moldando o futuro do Direito das Famílias e Sucessões.

A repercussão e os impactos dos recentes protocolos do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sobre escuta e perspectiva judicial também estão entre os desafios a serem analisados. Realidades como o crescimento das famílias unipessoais, a coparentalidade (responsabilidades compartilhadas entre pais e mães) e o reconhecimento de famílias multiespécies (formadas por humanos e animais de estimação) estarão em pauta no evento.

Lidar com essas especificidades exige, do profissional de Direito, quebrar e evitar qualquer tipo de barreira com a parte atendida. Além da escuta propriamente dita, cabe ao advogado ou à advogada estabelecer horizontalidade na relação.

A advogada Juliana Kolbe, por exemplo, de imediato costuma dispensar o uso de “doutora” como pronome de tratamento. Afirma que procura ainda demonstrar a importância da relação transparente, desprovida de pré-julgamento, preconceitos. Recorda-se de uma ocasião em que uma cliente estava relutante em dizer que era garota de programa, temendo que isso fosse prejudicial ao processo, e como foi importante tranquilizá-la.

Traduzir e explicar o linguajar técnico é algo igualmente imprescindível. Ações do Direito da Família, como a expressão mesmo sinaliza, mexem com questões familiares: guarda de filhos, reconhecimento de paternidade/ maternidade, divórcio, pensão alimentícia, entre outras. Muitas vezes a frieza dos termos técnicos soa distante e antipática diante de situações vividas tão sensíveis.

Juliana conta que se vale da própria experiência pessoal para manter a preocupação em evitar o juridiquês. “Antes de cursar Direito, lidei com processos judiciais, e sei das dificuldades para uma pessoa que não é da área entender os termos.”

Além de explicar pessoalmente aos clientes o significado dos conceitos envolvendo as ações, por meio de seu escritório a advogada dispõe de um software que, a partir de um aplicativo, envia atualizações dos processos para a parte atendida, em linguagem simplificada. Ela considera isso fundamental para um atendimento, de fato, acolhedor.