Advogados contra as máquinas? O futuro do direito empresarial na era da Inteligência Artificial
Por Priscila Condeli, especialista em direito processual civil e CLO da DeltaAI
A Inteligência Artificial já está transformando o mundo jurídico empresarial. O que antes era um trabalho exaustivo e manual, agora pode ser automatizado em questão de minutos. Ferramentas de IA são capazes de revisar contratos, prever desfechos de litígios e otimizar a gestão de riscos, reduzindo o tempo gasto com tarefas burocráticas e aumentando a eficiência das equipes jurídicas em até 60%, segundo estudos. Mas, embora a automação traga ganhos inegáveis de produtividade, há um perigo silencioso: confiar cegamente na tecnologia pode expor empresas a riscos invisíveis e decisões equivocadas.
No Direito Empresarial, a previsibilidade estratégica é um dos maiores trunfos da IA. A análise de dados possibilita antecipar cenários e minimizar prejuízos antes que eles se concretizem. No Brasil, o uso de IA no Judiciário cresceu 26% desde 2022, reforçando seu impacto na eficiência do setor. Empresas que dominam essa tecnologia podem não apenas acelerar fluxos de trabalho, mas também evitar litígios desnecessários. O problema surge quando a automação é vista como uma solução absoluta, sem considerar que o Direito não é apenas uma ciência exata – ele envolve interpretação, contexto e estratégia.
O histórico da tecnologia já nos mostrou que algoritmos podem errar – e errar feio. Um exemplo emblemático aconteceu em 2018, quando a Amazon precisou desativar um software de recrutamento porque ele passou a discriminar mulheres com base em contratações anteriores. No Direito, um erro desse tipo pode gerar passivos milionários. Softwares que analisam cláusulas contratuais de forma equivocada ou subestimam riscos financeiros podem levar a decisões catastróficas. A automação sem supervisão não é uma vantagem, mas uma armadilha.
No âmbito financeiro, a IA também tem sido uma aliada poderosa. Empresas que utilizam estimativas automatizadas conseguem planejar melhor seus passivos e evitar surpresas no orçamento. No entanto, confiar apenas em previsões matemáticas pode ser perigoso. A tecnologia pode identificar padrões e probabilidades, mas não substitui a análise estratégica de um advogado experiente. Uma decisão mal calculada pode custar caro – e, no fim do dia, quem responde pelo erro não é o algoritmo, mas a empresa.
Isso significa que advogados devem resistir à tecnologia? Pelo contrário. A IA é uma ferramenta valiosa, e ignorá-la pode ser um erro tão grande quanto depender dela sem critério. O grande diferencial está em como as empresas jurídicas e seus profissionais lidam com essa transformação. Aqueles que souberem equilibrar automação e supervisão terão uma vantagem competitiva gigantesca. A inteligência artificial deve potencializar a expertise humana, não substituí-la.
A verdade é que o Direito Empresarial não será definido por máquinas, mas por quem souber usá-las da forma correta. Advogados que dominarem a tecnologia e a utilizarem de maneira estratégica estarão à frente do mercado. Já aqueles que acreditarem que a IA pode operar sem intervenção humana correm o risco de transformar eficiência em um grande problema.
A tecnologia avança rapidamente, e o Direito não pode ficar para trás. Mas é preciso lembrar que, enquanto a IA pode analisar dados e agilizar processos, a tomada de decisão continua sendo humana. No fim das contas, o que diferencia um bom advogado de um software não é a velocidade, mas a capacidade de enxergar além dos números. E isso, nenhuma máquina pode fazer.
*Priscila Condeli é especialista em Direito Processual Civil, com mais de 10 anos de experiência em Legal Operations, Compliance e Estratégias Negociais. Atua na automação de processos jurídicos, análise de risco, perfilação de litigantes e implementação de metodologias ágeis, com foco em BPO Jurídico e inovação no setor.