Advogar por meio de parcerias: A internacionalização de um escritório e que atua em várias áreas jurídicas
Por Robson Sabino – Advogado
Se as parcerias locais são uma realidade em áreas em que os colegas recorrem à experiência de um especialista, por que não expandir fronteiras?
Um advogado de família pode recorrer a um colega quando o problema do cliente se torna criminal. A crescente globalização e o aumento do fluxo migratório para países como Portugal têm ampliado as oportunidades para advogados que procuram atuar em múltiplas jurisdições, com o apoio de advogados locais.
A relação Brasil-Portugal é uma das que mais tem beneficiado deste fenómeno, por partilhar não só a língua, mas também laços históricos e culturais. Portugal já conta com cerca de 10% da sua população formada por imigrantes, sendo o Brasil o país que mais tem contribuído para o repentino aumento da população portuguesa. Este cenário tem gerado uma crescente necessidade de apoio aos imigrantes em áreas como o Direito Empresarial, Direito Contratual, Direito dos Estrangeiros, Direito Civil e Direito Penal.
Portugal oferece vantagens como a facilidade de obtenção de vistos e a possibilidade de ligação a outros países da União Europeia. Atualmente, com o fim do convénio entre a Ordem dos Advogados de Portugal e do Brasil, que permitia a inscrição de advogados brasileiros na ordem portuguesa e vice-versa, tornou-se mais difícil para um advogado brasileiro inscrever-se na Ordem dos Advogados de Portugal, o que aumenta a necessidade de parcerias entre advogados de ambos os países.
Vistos e nacionalidade são apenas a ponta do iceberg das oportunidades. Um cliente deseja mudar-se para Portugal e pretende abrir uma
empresa. Desde a escolha do modelo de negócio até ao financiamento bancário ou apoio estatal para o pagamento de impostos, há múltiplas necessidades em diversas áreas do direito. Também se pode pensar no caso de um cliente que, já a residir em Portugal, foi detido e enfrenta a possibilidade de ser expulso de Portugal, ficando isento de cumprir o resto da pena no Brasil, mediante o cumprimento de certos requisitos legais. Estes são apenas alguns exemplos de situações em que o advogado pode ser contactado e não quer perder o cliente, mas sim indicar um parceiro para que possam trabalhar em conjunto: o advogado de confiança do cliente e o parceiro que tem a experiência na área jurídica necessária.
A possibilidade de parceria é extremamente benéfica para os advogados, permitindo a troca de experiências e aumentando a sua competitividade no mercado. Este modelo de negócio não implica qualquer investimento financeiro, nem a necessidade de abrir uma filial em cada cidade ou país onde se queira atuar. No entanto, permite que os advogados de um país estrangeiro beneficiem da experiência de um colega que atua no direito local, respeitando as particularidades de cada país.
As parcerias permitem que os advogados divulguem a sua atuação em outras áreas do direito e em outros mercados, utilizando redes como o LinkedIn, Instagram e blogs jurídicos. Isso amplia as áreas de atuação e internacionaliza o escritório, permitindo a apresentação de soluções jurídicas adequadas em várias jurisdições, eliminando a necessidade de grandes investimentos e os desafios de inscrição em múltiplas ordens. O principal benefício é, sobretudo, a experiência necessária para advogar em outras áreas ou em outros países.
Rejeitar o cliente ou não oferecer o serviço que ele procura pode significar perdê-lo para um profissional completo, que beneficia da experiência de colegas. Assim, ao invés de dispensar um cliente, deve-se ampliar o leque
de áreas de atuação e internacionalizar o escritório. É importante permitir que o público saiba quais são as áreas em que o advogado atua, seja diretamente ou através de parceiros. O cliente é atendido com a ajuda do parceiro, mas quem faz a indicação permanece como elo de ligação entre ambos. O grande erro ao formar uma parceria é esperar que o cliente apareça. O correto é antecipar-se e informar ao cliente quais são as áreas e países de atuação do escritório, para que ele saiba a quem recorrer.
*Robson Sabino é um respeitado advogado brasileiro, residente em Portugal, cursando atualmente o doutorado na Universidade de Lisboa.
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