Do advogado à advocacia empresarial: peça em três atos
Por Rafael Pandolfo*
Muitas pessoas questionam o caminho para a criação e para a consolidação de um escritório empresarial. A resposta dependerá tanto de cada contexto quanto dos objetivos estratégicos perseguidos pelas respectivas propostas. Apesar de únicos, esses distintos projetos envolvem estágios de desenvolvimento comuns. Esse percurso pode ser equiparado a uma peça teatral dotada de três atos, a qual tem início com o advogado e se encerra com a consolidação da respectiva sociedade de advocacia, como será a seguir abordado.
Primeiro ato: a formação do advogado e a arrancada profissional
As universidades preparam os estudantes para o exercício do direito. O foco é a formação de operadores dotados de habilidades técnicas representadas pelo conhecimento normativo, doutrinário e jurisprudencial. A verticalização do conhecimento após o curso de graduação, por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado, aliada à capacidade de transformação desse conhecimento em resultados práticos, é, em geral, responsável pela primeira arrancada profissional de um advogado.
Segundo ato: a formação do ser humano
O conhecimento jurídico desacompanhado da sensibilidade pode ser comparado a um excelente carro pilotado por um motorista pouco talentoso, o qual, mais cedo ou mais tarde, se perderá nas curvas de uma difícil carreira. O investimento no autoconhecimento, como a psicoterapia e a psicanálise, é fundamental na formação profissional. Superando nossos conflitos, entenderemos melhor as questões inconscientes que permeiam o processo decisório humano subjacente a cada conflito jurídico. Ainda, seremos capazes de compreender, com maior amplitude, a necessidade de cada cliente. O desenvolvimento humano invariavelmente materializa a segunda estirada na carreira profissional. A empatia, a tolerância, o refinamento da sensibilidade e a clareza de propósitos potencializam tanto elos internos sólidos no escritório – que começa a ganhar corpo – quanto saudáveis e construtivas relações no ambiente externo.
Terceiro ato: a sociedade e o gestor
Ultrapassados os dois primeiros atos, alcança-se um momento para o qual grande parte dos advogados não foi preparada: a gestão. Somos treinados para sermos prestadores de serviços, não para sermos empreendedores. A consolidação de um projeto de sucesso exige habilidades estranhas às demandadas pela prática jurídica.
Dominar tecnicamente os temas do direito é fundamental para o desenvolvimento de produtos e para a seleção das apostas, mas não é suficiente para que os respectivos projetos sejam exitosamente concluídos. A busca pelo desenvolvimento de habilidades e pelo conhecimento em gestão, a utilização de consultorias especializadas e a heterogeneidade na escolha dos sócios são fundamentais para que se consiga dobrar o Bojador.
Nesse estágio, a percepção sobre a finitude do tempo é gritante, e as funções dos sócios precisam ser rediscutidas. Como não se pode atuar com a mesma intensidade em todas as áreas, cada um deve assumir um papel distinto na tríade demandada por esse estágio de desenvolvimento, a saber: a prática jurídica, o relacionamento e a gestão. O investimento na formação de advogados gestores e a contratação de profissionais do mercado com essas características são cruciais. Esse também é um delicado momento de escolhas (e de renúncias).
A tendência à entropia, a necessidade de oxigenação, a utilização da inteligência artificial, o trabalho remoto e a abertura ao novo exigem o máximo de atenção e zelo às virtudes e às características gravadas no DNA do escritório, responsáveis por sua individualização e pelo sucesso desse projeto profissional até então. Mudar sem perder a essência e construir um ambiente que constitua plataforma para implementação de projetos de colaboradores que também desejem empreender. Esses não são os únicos, mas estão entre os maiores desafios desse terceiro ato, o qual só será exitosamente performado se os anteriores tiverem sido devidamente executados.
Tenham, todos, um ótimo espetáculo.
*Rafael Pandolfo, coordenador geral e sócio fundador da Rafael Pandolfo Advogados Associados. Advogado Graduado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestre e Doutor em Direito Tributário pela PUC-SP. Coordenador do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET) de Porto Alegre e todo o RGS. Professor Conferencista do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET) em todo o Brasil. Membro da Comissão Especial de Direito Tributário do Conselho Federal da OAB. Conselheiro de Assuntos Técnicos, Tributários e Legais (CONTEC/FIERGS). Consultor da Federação do Comércio de Bens e Serviços (FECOMÉRCIO). Conselheiro Editorial da Fundação Escola Superior de Direito Tributário (FESDT). Membro do Instituto de Pesquisas Tributárias (IPT). Membro do Instituto de Estudos Tributários (IET). Membro da Fundação Escola Superior de Direito Tributário (FESDT). Autor de diversos artigos e livros. Palestrante em diversas instituições.
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