Empreendedorismo: o advogado é uma startup em construção*
Em tempos contemporâneos, o direito não se encontra imune à metamorfose instigada pelo progresso tecnológico e social. O jurista do século 21, ao se deparar com esse cenário, reconhece que a dicotomia entre tradição e inovação não é apenas realidade, mas também imperatividade em sua prática.
A advocacia ainda se consolida como uma das profissões mais tradicionais em nosso tecido social. No entanto, impõe a seus operadores adaptação contínua ante novos desafios e dilemas ético-práticos.
Historicamente, as ondas de transformações – oriundas tanto das revoluções tecnológicas quanto dos movimentos sociopolíticos – têm repercutido de maneira implacável na prática jurídica. O operador do direito contemporâneo está em meio a um turbilhão de constantes mutações normativas, oscilações na jurisprudência e, não raramente, à eminência de novos institutos e categorias. Cada alteração legislativa e nova orientação das Cortes Superiores pode gerar um vasto espectro de demandas litigiosas, bem como a revisitação e, eventualmente, a reinterpretação de preceitos jurídicos consolidados.
É nesse cenário que emerge a figura do advogado empreendedor ou multifacetado. O advento de novas ferramentas, metodologias e soluções tecnológicas no universo jurídico trouxe um novo conceito à prática advocatícia. Antes reinava o léxico jurídico tradicional, hoje, coexiste com soluções empresariais, algorítmicas e plataformas digitais, que substituíram ferramentas arcaicas, como os dicionários e máquinas de escrever.
Todavia, seria um equívoco interpretar esse processo como mera modernização instrumental. O desafio é muito mais intrincado e exige do advogado uma reformulação epistemológica. Ele é convocado, não apenas a se atualizar perante novas normativas e ferramentas, como também a reconstruir sua base axiológica e metodológica, edificando-a com vistas à excelência na prestação de serviços aos seus clientes.
Nesse contexto, pesquisa realizada em 2021 pelo instituto Datafolha, com a chancela da AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs), aponta uma realidade cristalizada: a predominância do advogado autônomo no cenário brasileiro. Tal dado, além de reafirmar a natureza individualista da advocacia, suscita reflexões sobre a necessidade imediata desse profissional em amalgamar sua expertise jurídica com competências empreendedoras.
O operador do direito, em sua atuação autônoma, é assim instigado a dominar o corpus normativo e a imergir em uma análise mercadológica profunda, arquitetando estratégias que abarcam desde a gestão de pessoas, financeira até a publicidade jurídica. Esse cenário é ainda mais complexo quando consideramos o crescimento de faculdades de Direito no Brasil, fazendo o país ostentar o título de maior formador de bacharéis na área.
Portanto, é incontestável que o empreendedorismo, nesse âmbito, firma-se como uma ferramenta e um imperativo para aqueles que desejam destacar a singularidade profissional em um mercado saturado, porém em constante evolução. Um questionamento, contudo, permanece: como aliar a tradição jurídica à inovação empreendedora, respeitando os dogmas éticos e normativos estabelecidos pela Ordem dos Advogados do Brasil? A resposta a essa indagação moldará o futuro da advocacia no país.
*Anthonio Araujo Junior, advogado especialista em mercado de capitais e direito digital
Natural de Recife (PE), Anthonio Araujo Jr é advogado, empresário e escritor, com formação em tecnologia, administração de empresas e direito. É DPO e tem especialização em áreas como direito digital, LGPD, Mercados Capitais e fintechs, ao mesmo tempo em que continua sua jornada acadêmica com uma pós-graduação na PUCPR em Legal Operations: Dados, Inteligência Artificial e Alta Performance Jurídica e concluiu seu Master of Laws em Direito dos Mercados Financeiros, de Capitais e Fintech. Sócio fundador da ABLAW Advocacia e CEO do Grupo Smart Business, ele traz mais de 20 anos de experiência prática no mundo dos negócios. Membro permanente do IASP, reconhecido como palestrante em temas como empreendedorismo, advocacia disruptiva, LGPD e alfabetização de dados. Também é escritor dos livros Advocacia 4.0 e Desmitificando a LGPD. Para mais informações, acesse https://www.linkedin.com/in/antonioaraujojr/
Fonte: NB Press Comunicação