O Café vai ficar aguado
Por Emanuel Pessoa*
Uma combinação entre os métodos utilizados no começo do século XX, o empobrecimento da população na Grande Depressão e o racionamento do café durante a Segunda Guerra Mundial levaram os americanos a desenvolverem uma preferência pelo café aguado. Na Europa, o desgosto da população local pela bebida fraca fez com que ela fosse denominada de “Americano”.
Nos últimos meses, o preço do café disparou, levando diversas pessoas a buscar alternativas como imitações ou produtos com alto grau de impurezas, preparados quentes de milho torrado, reaproveitamento do pó ou adicionar água. Em alguma medida, estamos vendo o surgimento do “Brasileiro” em função da subida vertiginosa do café.
Essa elevação do preço se deu por uma combinação de dois fatores. Em primeiro lugar, o consumo de café tem disparado entre as populações mais jovens da Ásia, que estão substituindo o tradicional chá. Apenas a rede chinesa Luckin declarou que comprará quase dois bilhões de dólares de café do Brasil nos próximos quatro anos. Com essa demanda aquecida, o preço da commodity subiu em dólar, o que já levaria a um custo mais alto para os brasileiros. Afinal, se o produtor não vender por um preço similar no mercado doméstico ao que ele encontra no exterior, ele prefere exportar o que for possível.
Em segundo lugar, a má-condução da política fiscal pelo Governo Federal e uma série de declarações contra a gestão anterior do Banco Central levaram à uma aguda desvalorização do real. Com isto, são necessários mais reais para a mesma quantidade de dólares, puxando os preços para cima.
Assim, a média, o pingado e o cafezinho vão se tornando artigos de luxo. A quebra da safra também contribuiu, mas seria uma causa transitória. Os dois outros fatores devem se manter no horizonte, dessa forma forçando uma mudança no padrão alimentar do brasileiro.
*Emanuel Pessoa é advogado especializado em Direito Empresarial, Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP e Professor da China Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.
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