“O Plano Nacional de Arborização: Grande na Pompa, Pequeno na Essência — O Brasil Merece Mais do que Marketing Verde”
O Plano Nacional de Arborização Urbana: um anúncio grandioso sem a profundidade que o tema exige
A ministra Marina Silva apresentou, durante a programação da COP30, o chamado Plano Nacional de Arborização Urbana (PlaNAU). O palco escolhido — uma conferência ambiental de repercussão mundial — mostrou-se mais adequado a grandes feitos do que a um plano ainda carente de estrutura mínima. O resultado foi um lançamento de impacto simbólico, mas de pouca substância técnica.
O PlaNAU chegou ao público sem cronograma, sem detalhamento financeiro e sem orçamento global, embora o governo tenha mencionado a existência de “mais de 300 projetos” ligados a soluções baseadas na natureza, totalizando R$ 10 bilhões. Tais iniciativas, porém, não constituem o PlaNAU, tampouco são apresentadas como fontes diretas de financiamento do plano. A ausência de dados financeiros concretos reforça a percepção de que o lançamento teve caráter mais político e propagandístico que prático.
Mais grave: o plano não dialoga de forma clara com os Planos Diretores Municipais, instrumento obrigatório por lei federal para cidades com mais de 20 mil habitantes — um total de 1.635 municípios brasileiros. Não há integração prevista entre o PlaNAU e a política urbana local, tampouco modelos padronizados de execução ou previsão de recursos por porte populacional.
A arborização urbana, apesar de essencial, é uma das políticas ambientais mais simples de implementação. Com planejamento básico e envolvimento comunitário, uma cidade poderia iniciar seu processo local de arborização em menos de seis meses, usando poucos recursos e mobilização social. A fórmula é conhecida e eficiente:
criação de pequenos viveiros municipais;
distribuição de mudas à população;
participação de escolas, igrejas e associações;
adoção comunitária das árvores plantadas;
campanhas anuais de incentivo e premiação.
Esse modelo descentralizado funciona justamente porque respeita a escala local. Transformar o óbvio em megaprojeto nacional, lançado em evento internacional, é um movimento que desperta dúvidas sobre prioridades e intenções.
A arborização urbana exige menos palco e mais planejamento. Menos espetáculo e mais execução. O Brasil não carece de anúncios grandiosos; carece de políticas concretas, transparentes e viáveis. Ao vestir um tema simples com roupagem monumental, o governo arrisca transformar uma pauta fundamental — o verde nas cidades — em mero marketing verde.
O país merece mais: merece seriedade, técnica, e resultados — não apenas discursos embalados em grandes eventos globais.


