Resistência à tecnologia e mentalidade centralizadora travam produtividade nos escritórios de advocacia, aponta especialista
Por – Cristiano Ferreira*
Com 1,43 milhão de advogados no país e 84 milhões de processos em tramitação, Cristiano Ferreira defende que uso estruturado de inteligência artificial e gestão profissional são urgentes para romper gargalos
O Brasil abriga hoje 1.432.842 advogados registrados na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), segundo levantamento de abril de 2025. Apesar de o país liderar o ranking mundial em número de profissionais do Direito, dados do Justiça em Números 2024, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revelam um Judiciário sobrecarregado, cerca de 84 milhões de ações tramitam no sistema, com tempo médio de quatro anos e três meses até a conclusão, mesmo com o fechamento de 34,9 milhões de casos no último ano.
Para o advogado e empresário Cristiano Ferreira, fundador do Grupo Advogado 10x, que reúne mais de 25 mil advogados e atua no Brasil e em Portugal, parte da morosidade e da sobrecarga nos escritórios está ligada a um traço cultural da advocacia nacional, a centralização extrema. “O advogado brasileiro foi formado para revisar tudo, decidir tudo e, muitas vezes, “vender” e entregar sozinho. Isso cria um gargalo constante. Com inteligência artificial e processos claros, o papel pode mudar de menos ‘fazedor’ e mais gestor e empresário”, afirma.
Ferreira é um dos principais articuladores do uso responsável de IA no setor, com foco em produtividade e governança. Ele lembra que ferramentas como o Chat GPT podem ajudar na pesquisa jurídica, na automação de peças e na triagem de documentos, mas exigem protocolos de segurança e validação humana para evitar erros e riscos éticos.
Resistência à modernização
Pesquisas do setor indicam que a resistência dos advogados à adoção de novas tecnologias é alimentada por fatores como desconhecimento técnico, receio de substituição e apego a práticas tradicionais. Um estudo da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L) aponta que, embora a maioria dos grandes escritórios já utilize algum tipo de automação, menos de 40% implementaram políticas formais para uso de IA generativa.
No cotidiano, a resistência se manifesta principalmente na crença de que a qualidade do trabalho jurídico depende da revisão pessoal do sócio, na falta de políticas claras sobre o uso de inteligência artificial, especialmente para proteger dados sigilosos, e na ausência de processos de padronização e métricas que permitam delegar tarefas com segurança.
O avanço da tecnologia e o aumento da concorrência pressionam por mudanças. Fora do setor jurídico, 43% das empresas brasileiras já planejam investir em inteligência artificial nos próximos 12 meses, segundo levantamento da consultoria IDC.
Ferreira alerta que, se a advocacia não acompanhar essa transformação, corre o risco de perder competitividade e relevância. “IA não arruma escritório desorganizado. Primeiro vem processo, depois vem prompt”.
É fundamental mapear o fluxo de trabalho, padronizar rotinas para automatizar apenas o que já estiver estruturado e manter dupla checagem humana antes de qualquer entrega. “Quem delega com método ganha escala sem perder controle. A IA é uma alavanca, não um atalho”, conclui Ferreira.
* Cristiano Ferreira
Advogado e empresário, fundador do Grupo Advogado Adv10x, a maior comunidade de negócios entre advogados do Brasil, com mais de 25 mil profissionais conectados. À frente da organização, lidera iniciativas que integram educação, autoridade, networking, inovação e soluções práticas para a advocacia moderna, com atuação no Brasil e no exterior. É responsável pela construção de parcerias estratégicas, como a firmada com o BTG Pactual que hoje se posiciona como banco oficial da advocacia e a mentoring League Society, grupo liderado por Flávio Augusto.


